Entrevista: gênero textual

Entrevista é um dos gêneros textuais com função geralmente informativa, veiculado sobretudo pelos meios de comunicação: jornais, revistas, internet, televisão, rádio, dentre outros.

Exemplo: Trecho da Entrevista Escrita
Segue abaixo a entrevista (escrita e em vídeo) entre o jornalista Júlio Lerner e a escritora brasileira Clarice Lispector, veiculada no programa “Panorama”, da TV Cultura, dia 1 de fevereiro de 1977, ano da morte da escritora.


-Clarice Lispector, de onde veio esse Lispector?

-É um nome latino, não é? Eu perguntei a meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando outra coisa que parece “Lis” e “peito”, em latim. É um nome que quando escrevi meu primeiro livro, Sérgio Milliet (eu era completamente desconhecida, é claro) diz assim: “Essa escritora de nome desagradável, certamente um pseudônimo…”. Não era, era meu nome mesmo.

-Você chegou a conhecer o Sérgio Milliet pessoalmente?

-Nunca. Porque eu publiquei o meu livro e fui embora do Brasil, porque eu me casei com um diplomata brasileiro, de modo que não conheci as pessoas que escreveram sobre mim.

-Clarice, seu pai fazia o que profissionalmente?

-Representações de firmas, coisas assim. Quando ele, na verdade, dava era para coisas do espírito.

-Há alguém na família Lispector que chegou a escrever alguma coisa?

-Eu soube ultimamente, para minha enorme surpresa, que minha mãe escrevia. Não publicava, mas escrevia. Eu tenho uma irmã, Elisa Lispector, que escreve romances. E tenho outra irmã, chamada Tânia Kaufman, que escreve livros técnicos.

-Você chegou a ler as coisas que sua mãe escreveu?

-Não, eu soube há poucos meses. Soube através de uma tia: “Sabe que sua mãe fazia um diário e escrevia poesias?” Eu fiquei boba…

-Nas raras entrevistas que você tem concedido surge, quase que necessariamente, a pergunta de como você começou a escrever e quando?


-Antes de sete anos eu já fabulava, já inventava histórias, por exemplo, inventei uma história que não acabava nunca. Quando comecei a ler comecei a escrever também. Pequenas histórias.

-Quando a jovem, praticamente adolescente Clarice Lispector, descobre que realmente é a literatura aquele campo de criação humana que mais a atrai, a jovem Clarice tem algum objetivo específico ou apenas escrever, sem determinar um tipo de público?

-Apenas escrever.

-Você poderia nos dar uma ideia do que era a produção da adolescente Clarice Lispector?

-Caótica. Intensa. Inteiramente fora da realidade da vida.

-Desse período você se lembra do nome de alguma produção?

-Bem, escrevi várias coisas antes de publicar meu primeiro livro. Eu escrevia para revistas — contos, jornais. Eu ia com uma timidez enorme, mas uma timidez ousada. Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo. Chegava lá nas revistas e dizia: “Eu tenho um conto, você não quer publicar?” Aí me lembro que uma vez foi o Raimundo Magalhães Jr. que olhou, leu um pedaço, olhou para mim e disse: “Você copiou isso de quem?” Eu disse: “De ninguém, é meu”. Ele disse: Você traduziu?” Eu disse: “Não”. Ele disse: “Então eu vou publicar”. Era sim, era meu trabalho.

-Você publicava onde?

-Ah, não me lembro… Jornais, revistas.

-Clarice, a partir de qual momento você efetivamente decidiu assumir a carreira de escritora?

-Eu nunca assumi.

-Por quê?

-Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro, em relação ao outro. Agora eu faço questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade.

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